Lavínia Augusta Machado

 

Carla Patrícia Santana
Ivia Alves

Lavínia (Augusta) Machado (Levins) nasceu em Salvador, em 04 de agosto de 1922 e faleceu em 2000. De família de classe média alta, filha do advogado Otávio Ariani Machado, e de Lavínia Vilas Boas Machado, que morreu muito jovem, tendo uma irmã e quatro irmãos; seu avô, Jaime Vilas Boas, que também fez Faculdade de Direito, chegou a ser Promotor Público e Deputado Federal. Fez seus estudos na escola de freiras, Santíssimo Sacramento (Sacramentinas), aos 16 anos, concluindo os estudos nesta Instituição. Decidiu cursar Direito, mas o pai não deixou que fosse estudar em uma Universidade mista. Transferiu-se então para o Rio de Janeiro, preparando-se durante um ano para ingressar na Faculdade de Filosofia, nas Ursulinas, e durante este tempo esteve interna em colégio de freiras. Com a abertura da Faculdade de Filosofia aqui na Bahia, regressa para a realização do concurso, sendo aprovada em 2º lugar, na 1º turma de 1942, bacharelando-se, em 1945, em História e Geografia. Logo após vai para o Rio de Janeiro, porém regressa, para fazer a licenciatura . No entanto, seu interesse era entrar para o Itamarati, fato inconcebível na década de quarenta, posto que a carreira de diplomata estava vedada a mulheres. Então começa a trabalhar como professora lecionando no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, de D. Anfrísia Santiago, também ensinando História da Arte no curso de Biblioteconomia da Universidade da Bahia. Em seguida, fez o concurso de assistente para sua área, História Geral do Brasil, não chegando a tomar posse. Recebeu o convite do Dr. Isaías Alves para ser substituta na Cátedra de História do Brasil no entanto, não chegou a assumir a função por ter casado e viajado para os Estado Unidos. Casou-se em 1949, com o professor universitário Marshal Levins que estava realizando pesquisas aqui na Bahia, Lavínia foi convidada por Anísio Teixeira para auxiliar o professor nas suas pesquisas sobre Folclore por ter adquirido conhecimento na área enquanto estava na faculdade. Ao final das pesquisas, logo após o casamento, saiu do país. Por sua formação Lavínia também estudou canto e piano e com o casamento que a levou para os Estados Unidos, veio a possibilidade de ser cantora de Ópera, um dos seus grandes sonhos, que não pode realizar em decorrência do casamento e da maternidade. Mais tarde, deu prosseguimento a esses estudos em Nova York e posteriormente na École Normale de Paris. Em conseqüência, realizou várias récitas de canto em vários lugares: Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha e Itália. Chegou a trabalhar em programas de rádio e televisão nesses países e na França.

Viuva em 1954, enviou o filho para o Brasil, no Rio de Janeiro, a fim de ter mais tempo de trabalhar e dedicar-se ao Mestrado em Folclore. Após dificuldades financeiras, já que o pai recusou-se a ajudá-la caso não retornasse para o Brasil, conseguiu emprego no Departamento de Publicidade da Universidade em Miami, como secretária, após fazer algumas traduções, já que falava inglês, francês, italiano e alemão, ensinado por uma preceptora. Através desse emprego conseguiu a bolsa para cursar o Mestrado desejado, quando substituindo o chefe em uma comemoração, chegou a falar para 50 mil pessoas em nome da Universidade, admirando a Academia.

Cursou o Mestrado em apenas um ano, era a única mulher em uma turma de cinco alunos, dos quais foi a única a concluir em 1955, surpreendendo os professores e derrubando o preconceito com relação aos latinos. Recebeu o conceito máximo em sua tese sobre Canções Populares Brasileiras, e o título de “Master of Arts” em Literatura Francesa e Folclore, pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos. Retornando ao Brasil em 1956, fixa residência no Rio de Janeiro e com a abertura para mulheres do concurso para o Instituto Rio Branco, vai realizá-lo, sendo aprovada em terceiro lugar (entre 400 candidatos). Foi a primeira baiana a ingressar no Itamarari, iniciando a carreira como diplomata, em 1959.

Lavínia Machado fez carreira diplomática e seus cargos sempre estiveram relacionados com a cultura, serviu na América Latina e Europa. Em 1960, ainda como estagiária trabalha na ONU e OEA; como Segunda secretária, por merecimento, já em 1961, torna-se secretária do Grupo de Trabalho encarregado de organizar os programas radiofônicos, culturais e informativos para o exterior, e membro assessor dos Centros de Estudos Brasileiros na Argentina e no Uruguai. Em 1962, torna-se assistente de Gabinete do Subsecretário de Estado. Daí em diante, continua a fazer sua carreira fora do Brasil, nos Estados Unidos, assessora as conferências gerais da Unesco e em 1966, em Paris, faz parte da Delegação Permanente do Brasil junto à Unesco. Vai a Portugal por conseqüência da dificuldade do filho em se adaptar a Paris, neste ano conhece seu segundo marido, o Ministro da Aeronáutica Francisco Antônio das Chagas, do qual ficou viúva após 16 anos. Em 1968 é transferida para o Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Lisboa; em 1969, em Londres, dirige os Setores Culturais e de Promoção e Informação, quando chegou a falar a sós, com a Rainha. Em fins de 1972, pede sua aposentadoria para fixar residência em Portugal.

Lavínia Machado também fez carreira literária, fazendo parte da Associação Brasileira de Escritores, seção Bahia . Sua história individual tem um sentido de conquistas e de quebras de barreiras.

Enquanto estudante, participou da revista Presença, formada também pelo grupo da JUC (Juventude Universitária Católica) e dirigido à nova mulher do pós-guerra, sendo que a escritora não chegou a integrar a JUC. O periódico editado pela Tipografia Beneditina, teve existência durante os anos de 1946 a 1948, onde se encontram as primeiras colaborações da escritora.1Foi a oradora oficial da primeira turma da nova Faculdade de Filosofia, com o discurso Bacharéis de 1945. A escolha para ser a oradora se deu ao fato de conseguir mediar as divergências ideológicas existentes no grupo, construindo a realização da formatura. Neste discurso, a escritora faz a reflexão sobre as dificuldades materiais enfrentadas pela Universidade, da dificuldade no recrutamento de professores, além da importância das disciplinas oferecidas pela Faculdade, como da Filosofia, para a construção da cultura e de sua abrangência, das Matemáticas - o poema dos números, da Literatura - a alma dos povos, da História - o alicerce do sólido conhecimento de toda ciência, mostrando que tudo é relativo e orientando para o estudo dos problemas sociais. Faz críticas ao Fascismo, ao Comunismo (a ditadura do proletariado, ao Partido Único). Coloca a defesa da nacionalidade, a “feição própria de cada país”, percebe-se o acreditar nas mudanças via o institucional, configurado no novo regime legal e parlamentar. A defesa do Sentido da Paz, enquanto representação da liberdade; o sentido do Amor, humanitário; o sentido da Liberdade. Escreve sobre o papel dos professores, pontos de apoio dos alunos, cabendo a esses estimular a “curiosidade científica e literária”. Aparece também no discurso a colocação presente nos poemas publicados posteriormente, da vida apagando as lembranças da memória.

Também escreveu prosa jornalística, durante o período em que estudou nos Estados Unidos tornando-se correspondente do Diário de Notícias (de Salvador) colaborando com artigos diários sobre a cultura, questões políticas entre Brasil e EUA, entre os anos de 1952 a 1955.

Lavínia Machado publicou em livros seus poemas. O primeiro em 1947: A Espera contendo 56 títulos, com segunda edição em 1978: A Espera e Outros Poemas com 35 títulos sendo 16 inéditos e, o segundo livro em 1996: O Campo Além do Muro é Verde contendo 49 títulos sendo 16 inéditos dentre os quais um conto ("Manuel do Outeiro"), que será comentado adiante, por cronologia. Seu último livro foi publicado em Portugal a convite, recebendo a chancela para publicação após ser aceita na Associação de Poetas e Escritores Portugueses “SOL XXI”, foi a primeira brasileira a integrar a Associação.

 Em Portugal a escritora é reconhecida como uma grande poeta, e costumava a receber cartas elogiosas de diversos intelectuais da área da Literatura. Esperamos que com esse trabalho venha possibilitar que seja conhecida também no Brasil, como um dos grandes nomes da nossa literatura.

 

1. Foram publicados: os artigos "O Espiritualismo na Literatura", "Mestras" (parte do discurso de formatura), " Divórcio", "A Mulher nos Estado Unidos" e os poemas: "Prece", "A Grande Aurora", "Renovação", "Renúncia" e " Fiat"