Áurea Miranda

 Franklania F. Reis1
Ivia Alves2

Temos poucos dados sobre o percurso de vida desta escritora3. Nasceu em Feira de Santana, onde seus pais eram radicados e eram professores: Alípio Severiano de Miranda e Amélia Severiano de Miranda, ambos atuavam profissionalmente em escolas de Feira de Santana (Estado da Bahia), provavelmente como pessoas da incipiente classe média da época, optaram em dar uma profissão para sua filha. Áurea Miranda veio para Salvador, ainda bem jovem para estudar na melhor escola formadora de professores, que era a Escola Normal. Depois de diplomar-se, permaneceu na capital, exercendo o magistério e colaborando em periódicos, igualmente como sua irmã mais velha Eufrosina Miranda.

A maior parte de sua atuação na cena literária da capital deu-se entre 1910 e 1920. Atuou junto a periódicos, principalmente, como militante feminista, incrementando e descrevendo os avanços da luta da mulher pelo voto no Brasil. Um trecho de seu artigo, "A Vitória do Feminismo", mostra sua posição diante do mundo e da condição da mulher.

 

Eu, de mim, julgo que o grande erro dos homens foi o seu poderio extremo sobre a gloriosa metade do gênero humano.

Não; os homens, sem egoísmo algum, mais bem felizes seriam, no passado, se repartissem com a sua estremecida companheira as responsabilidades das ações, das sensações e das idéias.

Seria uma união venturosíssima. A civilização seria muito mais esplendorosa.

O mundo, muito mais digno de viver.

                   O lar seria, simultaneamente, uma oficina e uma pátria.

Quem ousa, na atualidade, duvidar do prestígio da mulher em todas as manifestações do heroísmo e do pensamento?4

 

        Sua luta em favor do ensino e da instrução da mulher bem como suas idéias em favor da nação e do civismo (temas que correm pararelos à reivindicação feminina do voto) podem ser encontrados como uma das suas preocupações e estão presentes em seus versos; também a preocupação com a instrução da mulher pode ser relido, atualmente, como uma tentativa de inserção política da mulher na sociedade, o papel da mãe para a nação republicana e burguesa. Sua luta principal, no entanto, é por uma igualdade de direitos da mulher e de seu reconhecimento intelectual.

        Áurea Miranda foi sócia da instituição Hora Literária dos Novos, composta por vários escritores e intelectuais e, também, do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia. Colaborou, com artigos, na seção "Postais femininos", da Revista do Brasil (1909) e também na revista baiana Bahia Ilustrada (1921), mas editada no Rio de Janeiro.

Seu único livro publicado, Fragmentos D’alma: versos da adolescência5, como era o costume da época, não foi bem recebido pelos principais críticos baianos, sendo que o poeta e crítica nas horas vagas, Pethion de Villar não conseguiu perder seu "ar de mestre" isto é, deixar de lado sua superioridade e respeitabilidade diante da moça e investiu contra seus versos, principalmente, na parte formal, apontando os possíveis "erros" da iniciante. Esse tipo de crítica dos "erros" era muito comum nas resenhas da época, quando se tratava de uma mulher-escritora, que ousava publicar um livro. Se discurso enquandra-se entre a benevolência e a severidade, pontuando que a autora, como todo iniciante, tem potencial, mas que apresenta alguns defeitos, os quais passa a enumerar. Pethion de Villar afirma que ela poderá melhorar, sendo desculpável tais deslizes dado a "escassa cultura" da poeta.

 

1.Profª. Graduada em Letras pela UFBA
2. Profª. Dr.ª  em Literatura Brasileira da UFBA
3.Ainda não temos dados sobre sua vida após 1930 nem a data do seu falecimento.
4.Bahia Ilustrada. Rio de Janeiro,1921. n.38,
5. MIRANDA, Aurea. Fragmentos d'alma: versos da adolescência. Bahia: Typ. Bahiana, 1918