Maria Feijó
(1918)

 Daniela Brandão [i]
Maria José de Oliveira Santos
Ivia Alves

 Maria Feijó (de Souza)[ii], conhecida também pelos pseudônimos de Marijó, Moreninha Bamba, Geisha, Gladys, Senhora e Suzete nasceu em 27 de novembro de 1918, na cidade de Alagoinhas. Filha de José Feijó de Souza e Júlia Feijó de Souza, sua família integrava a alta sociedade local, possuindo muitos parentes influentes na sociedade estadual. Mas, com toda a posição na sociedade, isso não impediu que a autora sofresse discriminação, chegando a ser persona non grata na pequena Alagoinhas, pois se comportava diferentemente das outras mulheres da cidade. Segundo a esposa do Senhor Milton Costa, Senhora Rita Campos, "Maria Feijó não era da época dela, ela já vivia hoje" [3] A cidade na época de sua juventude, era pequena e marcada pelo coronelismo e patriarcalismo, e seu grupo social chocou-se com sua maneira de pensar, agir e representar, em versos e prosa, a realidade que a cercava.

A escritora formou-se no Magistério pela Escola Normal de Alagoinhas, na gestão de Alcindo de Camargo, exercendo a profissão nas cidades de Senhor do Bonfim, Santo Amaro da Purificação, Aramari e Alagoinhas. Começa, daí, sua defesa em prol do setor educacional. E esta foi uma área que lhe possibilitou uma certa influência sobre a juventude da época, momento em que as mocinhas desta cidade saíam apenas para a igreja e quermesses em companhia dos pais e mães. Desde então já era impulsionadora de movimentos e manifestações culturais, dirigindo, em 1932, a partir do n. 12 de Alarma, jornal que era, até então, restrito ao mundo masculino e que se voltava para rondar as noites alagoinhenses, criticando homens e mulheres com piadas desqualificadoras.

Casada com Goaracy da Silva Neves, teve no marido bastante incentivo para suas atividades culturais. A irreverência da intelectual a acompanha em todos os momentos de sua vida.

Em 1949 realizou, em Salvador, um curso intensivo de Biblioteconomia sob a direção de Bernadete Sinay Neves, sendo, logo após, nomeada bibliotecária escolar. Fundou e dirigiu, na época, a Biblioteca Rui Barbosa na escola Brasilino Viegas em Alagoinhas, sendo a primeira mulher a comandar um programa de rádio na cidade natal; criou em 1950, a Hora da biblioteca, no serviço de Auto-falantes local, intitulado A voz da liberdade, inserindo na programação a Escola de brotinhos, onde as crianças e adolescentes encontravam espaço para expressar suas primeiras criações artísticas, bem como declamações, ensaios teatrais, musicais, dentre outras manifestações.

Entretanto, o cenário alagoinhense tornou-se pequeno para continuar abrigando a intelectual, que corre em busca de outros espaços. Parte então, sozinha, para o Rio de Janeiro (inicialmente, para passar as férias, conforme relatos de seus contemporâneos), e achando campo para suas atividades, por lá permaneceu vivendo até o momento atual. No Rio de Janeiro, a autora alcançou o reconhecimento de um restrito grupo, tanto no campo literário como na área da biblioteconomia. Em 1953, conclui o curso superior de Biblioteconomia no Rio de Janeiro, vindo a atuar na profissão de bibliotecária na Biblioteca Regional de Copacabana, chegando a ser chefe na Biblioteca da Gávea. Posteriormente, trabalhou no DASP e foi nomeada e empossada para exercer a mesma atividade no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do MEC.

Na comunidade literária carioca fundou o CLAM (Centro Literário Amigos de Maria Feijó: Marijó) onde proporcionou várias reuniões para tratar de assuntos relacionados à literatura e ao livro. Atuou, também, no programa Salão Grenat, da Radio Tupy, colaborando com o radialista Collid Filho.

Durante o período que passou a viver no Rio de Janeiro, sempre visitou Alagoinhas e acompanhava as ascensões sociais e culturais do seu município, contribuindo com o lançamento de suas obras e sentindo, amargamente, o desinteresse dos seus patrícios para com sua produção literária e cultural de modo geral.

A intelectual é membro de diversas associações como, Academia de Letras, Trovas e Filosofia do Rio de Janeiro; Academia Castro Alves de Letras, Bahia; Academia de Letras Municipais do Brasil, São Paulo; Associação dos Diplomados da Academia Brasileira de Letras; Instituto dos Centenários (Casa Agripino Grieco); Associação Cristã Feminina, Rio de Janeiro; UBT (União Baiana de Trovadores); Movimento Político Nacional, SP, e da sociedade de homens de letras, recebeu o prêmio da Academia Caitetense de Letras.

Foi, portanto, uma escritora que construiu sua vida literária tendo que vencer inúmeras batalhas.

 

 

[i] Graduanda em Letras pela Universidade Estadual da Bahia.

[ii] A pesquisa acerca da trajetória histórico - cultural e literária de Maria Feijó traz importantes contribuições dos senhores Belmiro Deusdete (radialista alagoinhense e interessado pelos fatos culturais do município) e Milton Costa (escritor e pesquisador, proprietário de um valioso arquivo particular), apreciadores e conhecedores da trajetória da escritora. A estes relatos orais juntaram-se leituras de textos da escritora e de resenhas e ensaios divulgados em periódicos locais, estaduais e nacionais. Belmiro Deusdete é colaborador do Alagoinhas Jornal (periódico fundado há 48 anos), a exemplo de Milton Costa. Um jornal de mais recente circulação no município e estado. Se faz importante também salientar que a pesquisa sobre escritora se deve aos esforços do projeto de pesquisa História Literária Alagoinhense desde os primeiros autores até os anos 80, coordenado pela profª Maria Jóse de Oliveira Santos na Universidade do Estado da Bahia – Alagoinhas.

[3] Entrevista gravada na residência do casal, em 27/08/1999.