Emília Leitão Guerra

Gilmara Miranda 1
Ivia Alves 2

 

Emília Leitão Guerra, como é conhecida no cenário literário, nasceu em 18 de novembro de 1883, na pequena cidade Sant'Águeda de Pesqueira, no interior de Pernambuco, filha de rico fazendeiro de gado e exportador de couro, o português José Martins Leitão, e de Emília Magalhães da Silva Porto. Aos cinco anos, a família, de muitos filhos, transferiu-se para o arraial de Santa Luzia (atualmente, Santa Luz), na Bahia.

Seus pais, respeitando as normas de que uma moça não devia ter uma educação nas escolas, não a dirigiram para isso. Ela, apesar de não freqüenta-las, levada pela sua avidez e curiosidade de tudo aprender, e ajudada pelo seu irmão mais velho, Carlos Arthur da Silva Leitão, conseguiu ter uma formação esmerada, principalmente, acima da média das mulheres de seu segmento social. Estudou línguas (francês, inglês e alemão) e além de história e ciências.

Durante a juventude, entrou em contato com os mais necessitados, pois auxiliava sua mãe em atividades beneficentes, ficando, nessa época, responsável pela fabricação de medicamentos caseiros para os enfermos pobres da redondeza. Na realidade, a cidade necessitava de tudo, pois não havia hospitais, médicos e nem mesmo uma pousada para abrigar os comerciantes que vinham comercializar com seu pai. Para sua casa, portanto, convergiam os comerciantes de fora da cidade e bem como os políticos da redondeza.

Emília Leitão Guerra muito cedo começou a exercitar-se na poesia, segundo depoimento, com apenas cinco anos. Já mocinha, escrevia muito e um desses muitos visitantes que pernoitavam na casa do pai ofereceu-se para entregar seus poemas a jornais da capital e de Feira de Santana. Assim, começou sua carreira literária. Alguns poemas foram publicados em periódicos, mas ela não se propôs a fazer uma carreira literária.

Casou-se com o médico ginecologista Adolfo Guerra, aos 24 anos, em 1907 e o casal teria onze filhos. Foi o marido que insistiu em publicar seu primeiro livro, intitulado Lírios da Juventude (1909).

Lírios da Juventude (1909) subdivide-se em quatro partes: "Caleidoscópio", "Instantâneos", "Íntimas" e "Cofre secreto", cada parte correspondendo a uma temática. Trazendo uma produção variada, o livro corresponde a uma seleção prévia de poemas escritos entre 1989 e 1905, encimada por uma epígrafe de Casimiro de Abreu e antecedida de um prefácio, escrito pelo seu irmão Carlos Arthur da Silva Leitão, "irmão e mestre", a quem é dedicado o livro.3

O livro foi muito bem divulgado pelos periódicos e, inusitadamente, recebeu elogios não só de críticos de Salvador, como também de Duque Estrada (Correio da Manhã) que o recebeu com comentários elogiosos.

Apesar de Emília Leitão Guerra ter sido mãe de onze filhos e iniciadora de ilustre família local, com o casamento recolheu-se ao lar, deixando de participar da cena literária, mas não deixou de escrever versos, diversificando ainda mais sua atividade literária com a composição de peças de teatro (principalmente para crianças) e hinos4 Por depoimento da filha, sua mãe nunca fez questão de publicar seus trabalhos, escrevendo mais por deleite e para os familiares. A vida doméstica consumiu seu tempo, sendo que à medida que aumentava a família, escasseava o tempo para a literatura.

A atitude para com as filhas foi diferente, exigiu que todas elas tivessem uma educação formal e concluíssem o curso superior.

Quando o casal completou suas bodas de ouro, os filhos fizeram questão de tornar públicos os cinqüenta poemas que vinham sendo escritos ao longo desse meio século para comemorar o dia do aniversário do marido, costume que ela vinha praticando desde o noivado, em 1905. Com o título de Evocações, esse livro de louvor ao amor e ao casamento teve duas edições, a primeira em 1957 e a segunda, em 1964, quando Emília Leitão Guerra já se achava bem doente.

Um crítico que escreveu a resenha de suas produções inicia seu artigo declarando que:

 "Desmentindo a opinião corrente de que, em literatura a mulher conseguira a primazia, apenas, no gênero epistolar, não iremos muito longe para encontrar poetisas apreciabilíssimas, competindo galhardamente com o sexo forte, por este mundo afora" (Flávio de Paula - 1964).

 

 

1. Graduanda em Letras da UFBA

2.Profª. Drª. em literatura brasileira da UFBA

3.tiramos os dados biográficos do livro e acrescentamos outros, obtidos através de depoimentos de suas filhas, Madalena e Cristina Leitão Guerra, em diversos contatos realizados no decorrer do ano de 1999.

4.Recolhemos em mãos de seus descendentes algumas peças manuscritas que foram encenadas pelos seus familiares.